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Formação sobre Comunicação e Memória Coletiva resgata histórias do Rio Doce e reflexões sobre o rompimento da barragem de Fundão

  • Foto do escritor: Alcides Aredes  Miranda
    Alcides Aredes Miranda
  • há 2 dias
  • 3 min de leitura

Confira o vídeo e o mapa construídos a partir das memórias compartilhadas pelos atingidos e atingidas de Governador Valadares e Alpercata


Com o objetivo de preservar a identidade comunitária, conectar memórias e reforçar a importância da reparação integral, a Assessoria Técnica Independente - Cáritas Diocesana de Governador Valadares realizou a Formação “Comunicação e Memória Coletiva”, voltada para os atingidos e atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão.   


Por meio de metodologias participativas, a formação promoveu um espaço de diálogo onde os participantes compartilharam relatos, construíram um mapa coletivo e discutiram formas de registrar e comunicar suas memórias para as futuras gerações.  


Um fio que conecta memórias e histórias


A primeira parte do encontro, intitulada "Tecendo a Memória", buscou resgatar lembranças afetivas dos participantes sobre o Rio Doce e seus territórios. Com cartões coloridos e um rolo de barbante, os presentes compartilharam experiências e construíram uma rede simbólica de memórias.  


Histórias de lazer, pesca, banhos no rio e encontros familiares deram o tom da atividade. "Aos domingos, nós íamos lá no pontilhão, assim a cinco quilômetros para baixo de Valadares, com varas e anzóis, pescando, eu lembro que eu só conseguia pegar lambari, mas meus filhos pegavam mais peixes, meu marido também, e de tarde a gente comia moqueca", relembrou Creuza Maria Magri, atingida do bairro São Pedro. Para José Carlos Portugal, morador do bairro Santa Rita, o rio era sinônimo de diversão. "Nós moramos lá na beirada do rio, e nós banhávamos muito no rio Doce, e ficávamos sempre em frente a uma lanchonete que tinha. E nós hoje perdemos essa oportunidade."  


A roda de lembranças demonstrou como o rompimento da barragem alterou profundamente a relação da comunidade com o rio. Antes um espaço de convivência e sustento, o Rio Doce se tornou um símbolo de perda e luta por justiça. "As igrejas evangélicas faziam batismo no rio Doce, e isso hoje não é mais possível, devido ao que aconteceu", lamentou Paulo Roberto Machado, atingido da cidade de Alpercata.  


Ao final da dinâmica, a rede de barbante formada no centro do grupo simbolizava a conexão entre as histórias e a importância de manter viva a memória coletiva do território.  


Construção do Mapa Coletivo: geografia das lembranças e impactos


Na segunda etapa da formação, os participantes utilizaram o Google Maps para registrar os locais mencionados durante a dinâmica anterior. A atividade permitiu visualizar as transformações do território e discutir como os espaços antes essenciais para a vida comunitária foram afetados pelo rompimento.  


Locais como a prainha do bairro Santa Rita, os areais de Governador Valadares, as travessias de balsa para a Ilha dos Araújos e uma nascente na região do Ibituruna foram marcados no mapa, acompanhados de relatos sobre seu passado e presente. 


Identidade Cultural e Comunitária

Atingidos e Atingidas que participaram da formação discutiram formas de registrar e comunicar suas memórias para as futuras gerações (Foto: Alcides Miranda)
Atingidos e Atingidas que participaram da formação discutiram formas de registrar e comunicar suas memórias para as futuras gerações (Foto: Alcides Miranda)

A formação foi encerrada com a reafirmação do papel da memória na busca por justiça e reparação integral, para garantir que as injustiças do passado não se repitam. "A memória não é apenas recordação, mas a continuidade da identidade cultural e comunitária", destacou Daphinne Nogueira, assessora técnica da Cáritas.  


Enquanto a luta por reparação continua, os atingidos seguem tecendo suas histórias, fortalecendo os laços comunitários e reivindicando o direito à lembrança e à justiça.


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