Oficinas realizadas pela Assessoria Técnica Independente mobilizam pessoas atingidas do Território 04 na elaboração de projetos para defesa de direitos
- Salmom Lucas Monteiro Costa
- 29 de jul.
- 5 min de leitura
Atualizado: 30 de jul.
Os projetos foram submetidos em Edital publicado pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos
O Acordo de Repactuação da Bacia do Rio Doce trouxe novas possibilidades reparatórias às comunidades atingidas, para além das indenizações individuais. O Fundo de Participação Social previsto no Anexo 6 do acordo e que dispõe de R$ 5 bilhões destinados ao financiamento de Projetos de Deliberação Direta das Comunidades Atingidas, abre caminhos para a promoção de projetos coletivos de base comunitária e, assim, tem despertado junto às organizações populares um interesse em se fortalecer institucionalmente para acessar recursos e garantir direitos.
Foi nesse contexto que lideranças comunitárias do Território 04 (Governador Valadares e Alpercata) procuraram o apoio da Assessoria Técnica Independente - Cáritas Diocesana de Governador Valadares (ATI CDGV), para pensar estratégias de fortalecimento institucional. Atendendo a esse movimento, os atingidos pediram o apoio da ATI para orientar os participantes na construção de propostas para o Edital “Promoção e Defesa de Direitos Humanos da Bacia do Rio Doce - 2025”, promovido pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos.
O edital se conecta aos objetivos das comunidades: apoiar organizações da sociedade civil que enfrentam violações e promovem a justiça socioambiental. Cada projeto aprovado poderá receber até R$ 50 mil, com execução prevista para até 12 meses.
Com o apoio dos profissionais da ATI CDGV, nove projetos foram construídos por grupos, associações e coletivos do território.
Oficinas mobilizam lideranças e organizações locais
O processo teve início no dia 7 de julho, quando a ATI convidou lideranças das Comissões Locais de Atingidos para uma reunião de apresentação do Edital. A partir das primeiras escutas e preenchimento de fichas de ideias, foi aberto um canal direto para agendamento de oficinas individuais com os grupos interessados.

Entre os dias 14 e 18 de julho, as oficinas foram realizadas com cada coletivo ou organização que manifestou interesse. A metodologia incluiu três etapas principais:
Acolhida e retomada do processo, com leitura das ideias iniciais e alinhamento com o edital;
Discussão de conceitos-chave, como fortalecimento institucional, sustentabilidade e incidência em direitos humanos;
Construção colaborativa da proposta, com apoio técnico da ATI para organização de objetivos, ações, orçamento, cronograma e impactos.
“A construção coletiva do projeto foi fundamental. A gente já tinha uma ideia do que queria, mas as oficinas ajudaram muito a organizar essas ideias, a entender o que era mais estratégico, o que valia a pena incluir ou não. Esse apoio da equipe fez toda a diferença para que o projeto tivesse a qualidade que teve. Foi um processo muito rico, acolhedor e bem conduzido. A nossa expectativa agora é grande, porque acreditamos muito na proposta, pois não é um projeto que beneficia só o nosso grupo, ele tem potencial de impactar o bairro inteiro. Agora é torcer para passar entre os 20!”, relatou Marinalva Alves de Oliveira, do coletivo Empreender com Elas.
Para Cida Pereira, da Creche Criança Sorriso, o processo de elaboração coletiva representou muito mais do que a inscrição de um edital: “O nosso reconhecimento e agradecimento a toda equipe da ATI - Cáritas Diocesana de Governador Valadares, pela capacidade de ouvir e traduzir a nossa vontade para o projeto. Já nos sentimos fortalecidas só por termos conseguido organizar o que a gente vive e sonho”, destacou.

Mobilização, escuta e facilitação das oficinas
Até o envio dos nove projetos, submetidos no site do Fundo Brasil de Direitos Humanos no último dia 22 de julho, a equipe da ATI CDGV esteve antes diretamente envolvida na mobilização, escuta e facilitação das oficinas de elaboração dos projetos, com a prestação de todo o apoio técnico às organizações e coletivos interessados em acessar o edital. Para os assessores técnicos que acompanharam de perto todo esse processo, a experiência reafirmou o compromisso da ATI com a construção de caminhos de reparação centrados nas pessoas atingidas.
Conheça abaixo os projetos submetidos pelo Território 4
Os nove projetos elaborados pelas comunidades expressam diversidade temática, mas compartilham o desejo comum de fortalecer estruturas locais e ampliar o acesso a direitos:
1. Projeto Elim: Do deserto ao oásis - Dando vida à COOTRALESTE
Reestruturação da cooperativa formada por egressos do sistema prisional, com foco em autonomia econômica, superação do estigma e inclusão social.
Proponente: COOTRALESTE

2. Restaurando vidas: mulheres empoderadas
Ação integrada de acolhimento, formação e geração de renda para mulheres em situação de violência, com foco na autonomia feminina e justiça de gênero.
Proponente: CrerSendo

3. Povos das Águas: visibilizando ilheiras(os) e trabalhadores(as) da cadeia produtiva da pesca
Criação de uma associação para garantir direitos territoriais e reconhecimento como povo tradicional, além de infraestrutura para produção e comercialização.
Proponente: Coletivo de Ilheiros e Pescadores

4. Edificando a Luta: revitalizando espaço comunitário do Assentamento Barro Azul
Reestruturação da associação de agricultores familiares, com foco em melhorias na sede, combate à insegurança hídrica e valorização da agricultura local.
Proponente: APADIBA

5. Esperançar: Dando vida nova à ADAFA
Retomada da associação de agricultores de Alpercata, com ações voltadas à produção agroecológica, educação popular e soberania alimentar.
Proponente: ADAFA

6. Cuidando das que cuidam
Fortalecimento da atuação da creche comunitária como espaço de acolhimento e formação para mulheres negras cuidadoras e suas famílias.
Proponente: Creche Criança Sorriso

7. Figueira em movimento: revitalizando a nossa comunidade
Formalização da associação, ações solidárias, mobilização política e construção de incidência cidadã na periferia urbana.
Proponente: Associação (de fato) de Moradores do Residencial Figueira

8. Empreender com Elas: Fortalecimento e autonomia econômica de mulheres
Aquisição de equipamentos, formalização e formação em economia solidária para mulheres dos bairros Turmalina e Planalto.
Proponente: Coletivo Empreender com Elas

9. Fênix: O renascimento da Associação dos Moradores de Ilha Brava e Agricultores Familiares
Formalização da associação rural e estruturação para acessar políticas públicas como PNAE e PAA, promovendo agricultura familiar sustentável.
Proponente: Grupo da Ilha Brava

Sobre o edital Rio Doce
O edital “Promoção e Defesa de Direitos Humanos na Bacia do Rio Doce - 2025”, promovido pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos, é uma oportunidade de fortalecimento para grupos e organizações que atuam na linha de frente da defesa de direitos nos territórios atingidos. Com foco no fortalecimento institucional, a chamada visa apoiar financeiramente até 20 propostas que enfrentem violações, promovam justiça socioambiental, valorizem modos de vida tradicionais e ampliem a participação cidadã. O resultado da seleção será divulgado a partir de 10 de outubro de 2025 e os projetos aprovados deverão iniciar sua execução ainda no segundo semestre deste ano.
Para acompanhar o Edital clique aqui: https://www.fundobrasil.org.br/edital/promocao-e-defesa-de-direitos-humanos-na-bacia-do-rio-doce-2025/




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