O evento marcou a abertura do 9º Seminário Integrado do Rio Doce, que ainda teve uma mesa redonda para falar sobre a repactuação com o Procurador da Advocacia Geral da União, Dr. Júnior Fidelis
No dia 05 de novembro de 2024, o rompimento da barragem de Fundão, considerado o maior desastre socioambiental da história do Brasil com danos que ainda afetam a Bacia do Rio Doce e o litoral norte do Espírito Santo, completou nove anos. E para marcar a data, o Fórum Permanente em Defesa da Bacia do Rio Doce promoveu um evento em memória, que reuniu entidades, movimentos sociais, instituições de ensino e diversas pessoas atingidas integrantes das comissões locais.
O evento foi realizado na Praça Caparaó, conhecida como Praça do Colégio Lourdinas, localizada no bairro Ilha dos Araújos, e sinalizou a abertura do 9º Seminário Integrado da Bacia do Rio Doce, promovido anualmente desde 2015 pela UNIVALE (Universidade do Vale do Rio Doce) em parceria com a UFJF/GV (Universidade Federal de Juiz de Fora Campus Governador Valadares) e IFMG (Instituto Federal de Minas Gerais).
Dentro da programação do Seminário foi realizada ainda uma mesa redonda, na noite do dia 05/11, com o Procurador da Advocacia Geral da União, Dr. Júnior Divino Fidelis, que participou das negociações da Repactuação e trouxe informações sobre o novo acordo. A mesa redonda teve transmissão ao vivo no canal do Youtube da UNIVALE.
Celebração
Uma celebração conduzida pelo Bispo da Diocese de Governador Valadares, Dom Antônio Carlos Félix, abriu o evento na Ilha dos Araújos. “Este ato foi muito importante para nós não nos esquecermos do que aconteceu há nove anos atrás com o rompimento da barragem do Fundão”, lembrou o Bispo Dom Félix.
Após a celebração, sucederam-se duas apresentações culturais. A primeira foi a dança dos caboclinhos da Comunidade Quilombola de Águas Claras de Virgolândia.
Na segunda apresentação, os alunos do Colégio Lourdinas fizeram uma representação simbólica do rio Doce e seu estado atual: poluído e cheio de rejeitos.
Pessoas Atingidas
Por fim, abriu-se para o momento de fala das pessoas atingidas, entidades e movimentos sociais. Marcio Geraldo, da Comissão Local da Ilha dos Araújos, apontou que o impacto do rompimento na vida dos moradores foi imenso. “Você via, por exemplo, a mudança do bioma no entorno, a mudança de comportamento das pessoas, de não querer vir no bairro, um dos mais contaminados, porque nosso bairro é cercado pela água”.
Já Fábio Fraga, também da Comissão Local da Ilha dos Araújos, destacou que a reparação do rio Doce é um ponto comum de convergência. “Ele é uma demanda comum para a vida, que é o que mais importa. E apesar da gente morar aqui em Governador Valadares, distante do processo de extração, a gente sofre as consequências e as consequências foram muito danosas”.
Rita Baldim, outra integrante da Comissão Local da Ilha dos Araújos, comentou sobre as enchentes, que a cada ano que passa fica mais difícil. "Hoje vem com uma lama gosmenta. É difícil de limpar as casas, difícil de limpar as ruas. As roupas, os vasilhames? Gente, isso tudo vai pro lixo. Então, quando eu escuto uma pessoa falar assim: mas a vida toda teve enchente! Então vem passar o que estamos passando, vem vivenciar o que a gente está vivenciando hoje".
Marinalva Alves, da Comissão Local do Turmalina, destacou a presença da ATI no território como uma vitória das pessoas atingidas, que hoje estão organizadas em 32 comissões locais. "Nós somos resistência. Nós sabemos que são nove anos nessa luta, e que não é individual, é uma luta coletiva".
Integrante da Comissão Local de Trabalhadores da Construção Civil, o atingido Antônio Carlos pontuou que a Repactuação não incluiu os trabalhadores da construção civil. "É preciso fazer uma análise desta areia. Porque se faz da água e não se faz da areia? A areia é a principal matéria prima das construções em Valadares. O setor sofre com a questão da areia. E eu estou sempre questionando isso, porque a areia pode estar contaminada com metais pesados".
José Maria Goulart, da Comissão Local do Penha e Vila União, destacou que a luta agora é pela aplicação dos recursos previstos na Repactuação. "Nós temos que fazer a luta, vigiar e fiscalizar esse dinheiro que vai cair na mão dos governantes".
Diversas entidades compareceram ao evento, entre elas o MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), Via Campesina, MST (Movimento dos Sem Terra), STRGV (Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Governador Valadares), IMELE (Instituto Missionário Leigos), CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), Pastoral da Criança, Pastoral da Ecologia Integral, CAT (Centro Agroecológico Tamanduá), CRESAFA (Cooperativa Regional da Economia Solidária da Agricultura Familiar Agroecológica), Comunidade Quilombola de Águas Claras de Virgolândia, Movimento da Boa Nova, Instituto Padre Nelito Dornelas, Comissão do Meio Ambiente da Província Eclesiástica de Mariana e o Dr. Adilson Domiciano, Presidente da OAB de Governador Valadares.
Da Cáritas Diocesana de Governador Valadares estiveram presentes o presidente da entidade, Padre Marcos Alves, e o seu vice Padre Romero, como também o coordenador do projeto de Assessoria Técnica Independente, Wellington Azevedo e o coordenador institucional Xabier Galarza. A equipe da ATI esteve presente acompanhando os atingidos e atingidas da Comissão Local do Território IV.
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